17 de julho: há 171 anos Guarapuava se tornava vila e era emancipada de Castro
Manoel Marcondes de Sá recriado por Inteligência Artificial. Ele foi um dos articuladores pela emancipação da cidade.
Diversos fatos importantes marcaram os mais de 200 anos de história de Guarapuava. Um desses passos que foram cruciais na caminhada de nosso município é lembrado hoje. Em 17 de julho de 1852 a “menina radiante”, como bem destaca o hino da cidade, se emancipava politicamente de Castro.
Com isso, o status era elevado de Freguesia para Vila. Essa mudança foi o que tornou possível, em abril do ano seguinte, o surgimento da Câmara Municipal de Guarapuava. Essa foi a primeira instituição governamental instalada por aqui e em 2023 celebra 170 anos.
E é justamente pela comemoração desse importante aniversário, que o Poder Legislativo de Guarapuava vem fazendo um resgate de nossa história. Para entender melhor como se deu todo esse processo conversamos com a Professora e historiadora Zilma Haick Dalla Vecchia, que faz parte do Instituto Histórico de Guarapuava (IHG), da Academia de Letras, Artes e Ciências de Guarapuava (Alac) e da Associação dos Docentes Aposentados da Universidade Estadual do Centro-Oeste (ADAU).
Ela nos recorda que na época, a luta pela emancipação já acontecia há alguns anos, mas que se concretizou, de fato, em 1852. "Aí sim foi possível eleger seus Camaristas e ter representatividade perante ao governo de São Paulo. Que na época, os territórios que hoje são Paraná e Santa Catarina eram ligados à 5ª comarca de São Paulo”, explica.
A Professora Zilma vem dedicando boa parte de seu tempo a estudar e publicar acerca da história de Guarapuava. Por conta da representatividade histórica do dia 17 de julho, ela encaminhou um artigo em que comenta o cenário que levou a essa emancipação e que reproduzimos na sequência.
17 DE JULHO DE 1852 - EMANCIPAÇÃO DA FREGUESIA DE NOSSA SENHORA DE BELÉM DE GUARAPUAVA¹
Por Zilma Haick Dalla Vecchia – membro do IHG, da ALAC e da ADAU.
No século XIX, de acordo com as leis portuguesas, a freguesia era a primeira organização político-administrativa de uma povoação.
Quando o Padre Chagas trouxe o documento de criação da Igreja de Nossa Senhora de Belém, em 1818, determinada pelo Rei de Portugal Brasil e Algarves, Dom João VI, o Fortim Atalaia deixou de ser um aquartelamento para transformar-se em uma freguesia: a Freguesia de Nossa Senhora de Belém dos Campos de Guarapuava. Quer dizer: um conjunto de paroquianos, os fregueses, sob a orientação de um padre, no caso o Padre Chagas. Ao padre competia, também, a catequese dos índios.
Para conseguir a sua emancipação, a freguesia deveria ser elevada à condição de Vila e, principalmente, criar a sua Câmara Municipal, eleger os seus camaristas, isto é, os seus vereadores, representantes da população colonial, conforme determinadas condições.
Guarapuava passou por todas essas fases na sua organização político-administrativa.
A Real Expedição de Conquista e Povoamento dos Campos de Guarapuava comandada por Azevedo Portugal, uma “entrada”, que chegou em 17 de junho de 1810, conquistou para os portugueses, efetivamente, esse imenso território chamado de Campos de Guarapuava, que era cobiçado também pelos espanhóis. Pretendiam os portugueses, chegar até o Rio da Prata, sonho português de domínio da Região Meridional da América do Sul. Se os portugueses não fizessem assim, perderiam essa região para os espanhóis. Aqui estavam os índios, famosos pela sua belicosidade depois do massacre feito à expedição de Afonso Botelho, no início de 1772.
Desde a chegada da expedição, da construção do Fortim Atalaia, da criação da Freguesia em 1818, até 17 de julho de 1852, os Campos de Guarapuava administrativamente e juridicamente, estavam sujeitos à Vila de Castro.
Padre Chagas, no Auto de Fundação de 09 de dezembro de 1819 queixava-se dessa dependência pela distância, 40 léguas “mais ou menos”, pelos caminhos precários, pela falta de um poder disciplinador entre as relações dos soldados com os indígenas que era exercido, na época, pela Polícia que estava em Castro.
Os registros das primeiras reações a essa dependência vão se dar somente 30 anos depois, por iniciativa do Juiz de Paz, Manoel Marcondes de Sá. Todo o território que é atualmente o Paraná e parte de Santa Catarina eram a Quinta Comarca de São Paulo. Pertencíamos ao governo de São Paulo. É para lá que Marcondes de Sá encaminhou o pedido de criação da Câmara Municipal e eleição dos Camaristas, alegando que os seus representantes poderiam se reunir na Igreja Matriz, até a construção da Intendência: Casa da Câmara e Cadeia, que naquela época, eram os locais onde se exerciam os poderes legislativo e judiciário de uma vila.
Pela Lei nº 14, de 21 de março de 1849, foi criada a Vila de Guarapuava. Um ano e quatro meses depois, a lei foi revogada! Os fatores que determinaram essa questão foram de ordem política e econômica. Na Freguesia de Nossa Senhora de Belém de Guarapuava eram poucos os “homens bons”: maiores de 25 anos, católicos, alfabetizados, com renda anual de cem mil a duzentos mil réis. Aqueles que tinham essa condição, não residiam em Guarapuava, só tinham a sua fazenda de criar por aqui. A maioria pertencia ao partido político de oposição ao Imperador, Partido Liberal. Castro era mais influente, politicamente.
A partir de 1851, com a criação da Loja Maçônica Philantropia Guarapuavana, os seus líderes passaram a lutar pela causa da emancipação da freguesia. Francisco Manoel de Assis França, Antônio de Sá Camargo, Manoel Marcondes de Sá, Pedro Aloys Scherer, Fortunato de Carvalho Lima, Joaquim José de Lacerda, Pedro de Siqueira Cortes são alguns deles.
Em 17 de julho de 1852, há 171 anos, Guarapuava estava emancipada, desmembrando-se de Castro. A Freguesia de Nossa Senhora de Belém de Guarapuava foi elevada à condição de Vila de Guarapuava, podendo eleger os seus Camaristas! A primeira Câmara Municipal de Guarapuava foi instalada em 9 de abril de 1853. Manoel Marcondes de Sá foi eleito seu Presidente!
¹Este artigo foi escrito tendo por base a obra: MARCONDES, Gracita Gruber. Duzentos anos de uma caminhada histórica: 1810-2010. Guarapuava: O Autor, 2010.