Carmem Izidoro - primeira vereadora de Guarapuava
Um palco enorme, com muitas figuras políticas ocupando-o. Alguns dos ocupantes, inclusive, eram líderes a nível estadual. Na plateia lotada havia gente de todos os cantos. O público chegava aos montes nas caçambas de caminhão, afinal, eram meados dos anos 70, um outro tempo.
Para quem tem pouca experiência, falar em uma convenção política como essa pode ser intimidador. Se for mulher, então, a pressão é ainda maior. Mas nada disso barrou a jovem que nutria um gosto por política e vontade de se tornar vereadora.
E foi possivelmente nesse palco cheio de pessoas importantes que surgiu a primeira vereadora de Guarapuava. A jovem, vestida com um casaco branco, uma técnica que usava para se destacar, inflamou o público com sua fala. “Eu não pude nem terminar o meu discurso de tanto que o pessoal batia palma. Só de contar eu me arrepio toda. Foi muito lindo. Ali eu percebi que iria ser eleita”, recorda Carmem Izidoro, a primeira mulher a assumir um cargo eletivo em nosso município.
Apesar de ser a mais marcante memória de sua vida política, ela não é a única. Dona Carmem, agora com 80 anos, guarda boas recordações do período em que ocupou uma das cadeiras da Câmara de Vereadores. “Foi muito bom, foi um papel que me ajudou a ser conhecida, a conhecer as pessoas, a trabalhar por elas, fazer movimento, muita coisa”.
Apesar de considerar a experiência boa, nem tudo foram flores. “Na época foi muito difícil porque a gente era oposição. Projeto nenhum era aprovado, a gente trabalhava, trabalhava, trabalhava e nada funcionava”, ressente.
Enfrentando o preconceito
Como mulher na política, Carmem Izidoro tinha um adversário a mais para driblar: o preconceito. Para afastar qualquer possibilidade de críticas e evitar de municiar quem quisesse desmerecê-la, estudava com afinco. Isso fez com que desde o primeiro dia passasse a calar quem duvidasse dela.
E olha que os comentários preconceituosos vieram desde o começo mesmo. “No dia que eu cheguei, um vereador fez uma crítica: ‘mulher na câmara, o que vai fazer?’ e aquele negócio. Mas eu já fui preparada e ele levou a pior”, destaca, ao se lembrar do primeiro debate como vereadora.
As intrigas por conta de gênero perduraram, mas sempre esbarrando na coragem e no trabalho de Dona Carmem. “Na época ele já tinha uns 60 anos e achava que mulher não podia atuar, não podia ser vereadora. Mas eu já estava preparada. E ele caiu do cavalo”, lembra ela.
Mulheres têm que participar da política
Após o período como vereadora Carmem Izidoro passou a ocupar posições nos bastidores. Acabou se mudando para Curitiba, onde reside até hoje. Na capital do estado ajudou a eleger sua cunhada como vereadora.
Dona Carmem Izidoro foi a primeira mulher eleita nos 170 anos do Poder Legislativo Municipal. A demora para que isso ocorresse é notável, mas no que depende da vontade dela e de suas sucessoras esse atraso ficará no passado.
A primeira vereadora de Guarapuava acredita que as pessoas precisam participar da política, as mulheres ainda mais. “Elas têm que participar, tem que atuar. Tudo que os homens fazem as mulheres fazem também. Tem que atuar em todos os setores”, incentiva.
Seu lugar de destaque na história da política guarapuavana ficará marcado para sempre. Para reconhecer a trajetória de Carmem Izidoro e outras mulheres, o Poder Legislativo de Guarapuava inaugura no dia 31/05 a Galeria Lilás. A iniciativa foi proposta pela vereadora Bruna Spitzner (Podemos), que também está à Frente da Procuradoria da Mulher, como uma forma de oficializar o respeito e a importância dessas mulheres na política e na Casa de Leis de nosso município.
A Galeria Lilás conta com um um mural permanente com fotos das vereadoras. A localização é privilegiada, fica bem ao lado da entrada do Plenário.